O Desenvolvimento Sustentável é um termo surgido nos anos 80, em uma comissão organizada para entender o que estava acontecendo na natureza do nosso planeta, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e capitaneada pela médica e ex-Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland.
Consta no Relatório de Brundtland, documento resultante da comissão, o conceito mais aceito até hoje sobre o termo:
“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades. [...] No mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos". É notável que o conceito foi concebido como reflexo dos impactos negativos da Revolução Industrial iniciada há cerca de 300 anos atrás, que mudou a forma como o mundo funciona, serializando e globalizando produtos e serviços com o intuito de facilitar a vida da humanidade. Por isso, é relevante entender por que a palavra "desenvolvimento" está presente neste contexto.
Como destaca Yuval Noah Harari, na introdução de seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã (2016)
"No alvorecer do terceiro milênio a humanidade chegou a uma incrível constatação. A maior parte das pessoas raramente pensa sobre isso, porém nas últimas poucas décadas demos um jeito de controlar a fome, as pestes e a guerra. É evidente que esses problemas não foram completamente resolvidos, no entanto foram transformados de forças incompreensíveis e incontroláveis da natureza em desafios que podem ser enfrentados. Não precisamos rezar para nenhum deus ou santo para que nos salvem deles. Sabemos bem o que precisa ser feito para evitar a fome, as pestes e a guerra — e geralmente somos bem-sucedidos ao fazê-lo." Em seu livro O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo (2018), Steven Pinker, psicólogo e linguista canadense, busca argumentar neste sentido com uma profunda análise em séries históricas.
Ele apresenta a evolução dos indicadores globais sobre a saúde e o desenvolvimento da medicina, redução drástica da mortalidade infantil e materna durante o parto, erradicação de epidemias, diminuição de mortes por guerras - que é incomparável com períodos anteriores como a Segunda Guerra Mundial -, redução da fome através do aumento do consumo de calorias diárias e dos novos meios de cultivo de alimentos e tratamento do solo, aumento radical dos direitos humanos e a diminuição de crimes por discriminação, aumento da riqueza e do produto mundial bruto - de praticamente 0 à 100 trilhões de dólares -, e entre outros indicadores, a longevidade que pulou de uma média de 35 anos para 70 anos, o que nos indicam que estamos em um caminho - ao menos do ponto de vista da qualidade de vida do ser humano - cada vez mais próspero.
Fato é que houve inegável progresso na qualidade de vida de boa parte da população nos últimos 300 anos, principalmente com o desenvolvimento da Ciência, e é ela quem questiona os impactos diretos e indiretos da industrialização e da globalização na natureza e na sociedade.
O que se vê hoje é um dilema global: criamos uma infinidade de coisas para melhorar nossas vidas ao custo da degradação do meio onde vivemos. Não queremos mais prejudicar a natureza, mas também não queremos parar de consumir o que temos vontade.
Para a ONU,
Encontramo-nos num momento de enormes desafios para o desenvolvimento sustentável. [...] Ameaças globais de saúde, desastres naturais mais frequentes e intensos, conflitos em ascensão, o extremismo violento, o terrorismo e as crises humanitárias relacionadas e o deslocamento forçado de pessoas ameaçam reverter grande parte do progresso do desenvolvimento feito nas últimas décadas. O esgotamento dos recursos naturais e os impactos negativos da degradação ambiental, incluindo a desertificação, secas, a degradação dos solos, a escassez de água doce e a perda de biodiversidade acrescentam e exacerbam a lista de desafios que a humanidade enfrenta. A mudança climática é um dos maiores desafios do nosso tempo e seus efeitos negativos minam a capacidade de todos os países de alcançar o desenvolvimento sustentável. Os aumentos na temperatura global, o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e outros impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente as zonas costeiras e os países costeiros de baixa altitude, incluindo muitos países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. A sobrevivência de muitas sociedades, bem como dos sistemas biológicos do planeta, está em risco. Além da natureza, uma grande parte da população global se encontra às margens do mercado, praticamente fora da economia, seja produzindo ou consumindo.
Mas teríamos como absorver o consumo totalmente democratizado?
Estima-se que se toda população mundial tivesse o mesmo padrão de consumo americano, necessitaríamos de 7 planetas Terra.
Para a Organização WWF,
"Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial" Talvez um dos maiores resultados visíveis do consumo excessivo e inconsequente sejam as ilhas de lixo nos oceanos, monitoradas por estudos da NASA durante 30 anos, e descritas por Botsman e Rogers no livro O que é meu é cada vez mais seu: A ascensão da economia colaborativa (2016):
"Bem no meio do Oceano Pacífico, um pouco a leste do Japão e a oeste do Havaí, formou-se um gigantesco monumento dos resíduos do consumismo moderno. A grande mancha de lixo do Pacífico é o maior depósito de lixo do mundo, apesar de não ser em terra, mas sim, no oceano. Estima-se que este [...] tenha o dobro do tamanho do Texas e, em algumas partes, chega a mais de 30 metros de profundidade" É um tanto compreensível que a maior parte da população não possua conhecimento da proporção dos efeitos do aquecimento global, visto que ainda se dão em áreas mais extremas da Terra e as pequenas variações não causam mudanças nos hábitos diários e na percepção da população em geral.
Porém segundo a ONU, só em 2018, mais de 17 milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas por conta de desastres que afetaram negativamente suas vidas em decorrência de mudanças climáticas. Segundo o estudo,
“Mudanças lentas no meio ambiente, como a acidificação dos oceanos, a desertificação e a erosão costeira, também estão afetando diretamente os meios de subsistência das pessoas e sua capacidade de sobreviver em seus locais de origem.” Os resultados mais agudos e imediatos dos impactos negativos do progresso tecnológico, como o aquecimento global, atinge principalmente os mais pobres, como afirma o Relatório de Brundtland (1987),
"Quando um sistema se aproxima de seus limites ecológicos, as desigualdades se acentuam. Assim, quando uma bacia fluvial se deteriora, os agricultores pobres sofrem mais porque não podem adotar as mesmas medidas anti-erosão que os agricultores ricos adotam. Quando se deteriora a qualidade do ar nas cidades, os pobres, que vivem em áreas mais vulneráveis, têm a saúde mais prejudicada que os ricos, que geralmente vivem em lagares mais protegidos. Quando os recursos minerais escasseiam, os retardatários do processo de industrialização é que perdem os benefícios dos suprimentos baratos. Globalmente, as nações mais ricas estão em situação melhor, do ponto de vista financeiro e tecnológico, para lidar com os efeitos de.uma possível mudança climática. Portanto, nossa dificuldade para promover o interesse comum no desenvolvimento sustentável provêm com freqüência do fato de não se ter buscado adequadamente a justiça econômica e social dentro das nações e entre elas."
Segundo o Manifesto Ambiental da ONU,
“Chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem. Por outro lado, através do maior conhecimento e de ações mais sábias, podemos conquistar uma vida melhor para nós e para a posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as necessidades e esperanças humanas…” A Sustentabilidade deve ser vista como um processo em desenvolvimento. Como vimos, é uma resposta à visão antropocêntrica de progresso que se intensificou nos últimos 300 anos.
De fato, não será fácil convencer uma população de 8 bilhões de indivíduos a diminuirem ou até pararem de consumir o que lhes agrada.
Até que haja uma mudança de paradigma, novas formas de pensar e agir devem ser integradas ao modelo econômico atual, principalmente no que tange a um consumo mais fortemente embasado na Ciência.
Voltando ao Relatório de Brundtland,
"O desenvolvimento sustentável é mais que crescimento. Ele exige uma mudança no teor do crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias-primas e energia, e mais equitativo em seu impacto." Como todas as grandes conquistas humanitárias, como a abolição do trabalho infantil e da escravidão, o direito à igualdade entre raças e gêneros, a sustentabilidade deve ser uma luta por mais educação.
Para a ECOFY, o filtro mais eficiente para este processo para um futuro sustentável é a informação e o conhecimento.
Acreditamos que, quanto mais conhecimento levamos a quem produz e a quem consome, mostrando principalmente seus impactos, mais próximo estaremos do que idealizamos, seja consumindo mais inteligentemente ou não consumindo.
Se a sustentabilidade é um processo e temos certeza de que, neste momento, a humanidade não está no seu pleno equilíbrio, o segredo é entender exatamente onde estamos, o que estamos produzindo e consumindo.
E se podemos saber onde estamos, podemos analisar e adaptar nossos padrões visando um novo futuro.