Segundo estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de lixo em 2018, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior.
Em específico sobre o lixo plástico, o Banco Mundial afirma que o Brasil é o 4ª maior produtor no mundo, com 11,3 milhões de toneladas de plástico, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.
Como mostram estudos recentes realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 99% dos produtos que compramos são jogados fora dentro de seis meses, gerando mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos no mundo, por ano.
A reciclagem, apesar de ser exaustivamente reiterada como uma forma eficaz de lidar com os resíduos que geramos, ainda é de apenas 9% na média global, e no Brasil, cerca de 3%.
Mesmo se reduzíssemos drasticamente nossa produção e consumo, e portanto a geração de resíduos - algo que é inimaginável pelo menos no curto prazo - algumas das próximas gerações ainda teriam que tratar dos impactos diretos e indiretos do nosso lixo.
Preocupante, não é?
Como observa Luís Fernando Veríssimo em sua obra O mundo é bárbaro (2012),
"[...] somos inquilinos do mundo. [...] temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino, inclusive a de prestar contas de cada arranhão no fim do contrato."
Com o agravamento constante da situação ambiental desde a segunda metade do século XX, se intensificaram os fóruns de debate, convenções, tratados e políticas internacionais para tratar do assunto.
Em 1992, a ONU realizou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, mais conhecida como Rio 92, também chamada de Cúpula da Terra, evento onde surgiram as primeiras referências formais da Política dos 3 Rs.
A Agenda 21, documento resultado da conferência, pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (MMA, 2002).
Especificamente sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos, a Agenda 21 apresenta e discute o Princípio dos 3 Rs - Reduzir, Reutilizar e Reciclar, como atitudes básicas na prática da economia de recursos, reutilização de materiais aproveitáveis e reciclagem de materiais (SILVA, 2003).
Reduzir é focalizado no capítulo 4 da AGENDA 21 (Mudança dos Padrões de Consumo), cujos principais objetivos são promover padrões de consumo que não esgotem reservas e recursos naturais e que atendam as necessidades básicas das populações e a promoção de padrões sustentáveis de consumo pela sociedade. Como base nas ações são citadas prioridades em redução de desperdício em embalagens de produtos, estímulo à reciclagem, conscientização dos consumidores em relação aos impactos causados pelos resíduos, etc. É o primeiro passo e a medida mais racional que traduz a essência da luta contra o desperdício.
Reutilizar, entende-se como uso mais eficiente dos recursos com o objetivo de reduzir ao máximo seu esgotamento. Reutilizar o possível antes de descartar e inventar alternativas para novos usos. Os futuros programas de manejo de resíduos devem elevar ao máximo as abordagens de controle, baseadas no rendimento dos recursos. Essas atividades devem realizar-se em conjunto com programas de educação do público. É importante que se identifiquem os mercados para os produtos procedentes de materiais reaproveitados, ao elaborar os programas de reutilização e reciclagem (AGENDA 21, cap. 21).
Reciclar, último recurso a ser adotado com materiais que não possuem mais qualidade e/ou capacidade de utilização. É um processo através do qual materiais que se tornariam lixo são conduzidos para serem utilizados como matéria-prima na manufatura de bens feitos anteriormente com matéria-prima virgem. É um encaminhamento que requer custos de coleta, adequação e tecnologias apropriadas de reciclagem, para haver o retorno do material ao sistema (RUFFINO, 2001).
Os 5 R's fazem parte de um processo educativo que tem por objetivo uma mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos (MMA, 2017). É a evolução e ampliação da política dos 3 R’s, com a inclusão do “repensar” e do “recusar” (ALKMIN, 2015).
Desde a Agenda 21, muitos pesquisadores e instituições buscaram desmembrar o conceito, que se mostrava ainda um tanto generalista, não abrangendo mais profundamente os riscos crescentes do consumo desenfreado.
Em uma primeira ampliação da política, foram acrescentados mais dois R's. Além de Reduzir, Reutilizar e Reciclar, agora temos também Repensar e Recusar.
Repensar sobre os processos socioambientais de produção, desde a matéria-prima, passando pelas condições de trabalho, distribuição, até o descarte. Repensar a real necessidade de consumo aos nossos hábitos. Significa exercer controle social sobre a cadeia e produção de consumo.
Recusar, evitando consumo exagerado e desnecessário, adquirindo apenas produtos essenciais. Recusar produtos que causem danos ao meio ambiente e/ou para nossa saúde.
Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), podemos adicionar ainda mais dois R's aos cinco anteriores.
Reintegrar seu lixo orgânico também pode ser reaproveitado em sua casa com a compostagem, que é uma espécie de "reciclagem dos resíduos orgânicos". Essa técnica permite a transformação de restos orgânicos (sobras de frutas, legumes e alimentos em geral, podas de jardim, trapos de tecido, serragem, etc) em adubo. É um processo biológico que acelera a decomposição do material orgânico, tendo como produto final o composto orgânico.
Responsabilize-se. Pergunte e pesquise sobre a origem dos produtos que você consome. Veja se os fabricantes não estão envolvidos com desmatamento ilegal e trabalho escravo, por exemplo. Evite o desperdício de alimentos e planeje melhor suas compras. Priorize frutas e legumes da estação e, se possível, adquira alimentos orgânicos, de preferência em feiras especializadas. Nelas, você compra direto do produtor e os alimentos são mais baratos que nos supermercados.
Você também pode cobrar das empresas de eletroeletrônicos uma política de fabricação de produtos com baixo consumo de energia e maior prazo de duração.
Para algumas instituições, com o Instituto Akatu, pode-se acrescentar o repasse através da comunicação:
Repassar as informações que você tiver e que ajudem na prática do consumo consciente, como retuitar, repostar ou reenviar e-mails podem ajudar na propagação da educação ambiental.
Ao que indicam os direcionamentos das políticas de governos de países representativos no cenário global, de grandes empresas e de uma grande parcela da população, o consumo ainda será uma constante em nosso estilo de vida nos próximos anos e isso necessariamente implica em uma maior urgência na mudança de visão da sociedade.
Adotar novos hábitos para diminuir nossos impactos é uma atitude que pode ser iniciada hoje, por qualquer cidadão e que, em grande escala, pode corroborar significativamente nos objetivos do Desenvolvimento Sustentável:
"[...] satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais."
E aí, você já começou a mudar?